Para entender o significado dessa homenagem, NOVA ESCOLA conversou com Luiz Araújo, mestre em políticas públicas de Educação.

Luiz Araújo, mestre em políticas públicas em Educação pela Universidade de Brasília (UnB)
Quais os avanços que observamos no Brasil de hoje, em relação às bandeiras defendidas por Freire? Em uma primeira fase, o educador lutou pela universalização da Educação Básica. Nesse sentido, tivemos grandes avanços. Hoje chegamos a ter 85% dos meninos e meninas entre 4 e 5 anos de idade na escola. Entretanto, a desigualdade social continua muito marcada. As crianças foram inclusas, mas de forma precária.
Freire batalhou também para que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) fosse instituída formalmente no país, o que aconteceu. A estrutura disponível, no entanto, não dá conta do recado. A Educação transformadora que ele defendia ainda não é realidade. O que cresceu muito, nos últimos tempos, foi uma concepção meritocrática e competitiva de ensino. É claro que isso reflete o nosso mundo: nunca tivemos uma sociedade tão acomodada como a atual.
Quais fundamentos freirianos um professor da Educação Básica precisa sempre ter em mente? Pelo menos duas contribuições freirianas devem estar presentes na prática pedagógica de
um bom professor. A primeira é a ideia de que o conhecimento deve partir da realidade concreta do aluno e que o educador deve buscar alargar este horizonte. Ou seja, o currículo precisa ser ancorado no mundo vivido pelos alunos. Fazer um levantamento deste universo é fundamental para qualquer processo pedagógico que se pretenda dialógico.
Em segundo lugar, o professor não pode desprezar ou esquecer que os estudantes conhecem o mundo, que não são caixas vazias para serem preenchidas pelos detentores do conhecimento sistematizado. É preciso valorizar o saber de nosso povo, alargá-lo e propiciar acesso à produção humana que lhe é negado. Freire defendia uma Educação democrática, em que professor e aluno trocam conhecimentos, decidem juntos. Constituir essas relações não é apenas eleger o diretor, mas viver democracia dentro da sala de aula, estimular a organização livre dos alunos etc.
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